sábado, 8 de novembro de 2014

JUDO -.BODAS DE PRATA DO CCD PRAGAL JUDO CLUBE

  • NELSON TRINDADE  --- O MESTRE QUE MAIS TEM LUTADO PELA SOBREVIVÊNCIA DO JUDO NO NOSSO CONCELHO


O CCD Pragal Judo Clube está a comemorar as suas bodas de prata .Hoje recupero aqui uma entrevista que realizei em1989 ao Mestre Nelson Trindade,para o Jornal de Almada,seis meses antes do aparecimento do CCD Pragal
 
Foto atualizada
O judo em Almada está a passar por uma fase de franco progresso, apesar das várias carências a nível de infra-estruturas desportivas e a falta de apoios a que a modalidade é votada, ela está presentemente num plano de grande evidência face aos resultados de alguns judocas  nas provas nacionais, por isso impunha-se ouvir o Mestre  Nelson Trindade, o qual têm vindo a desempenhar um papel relevante para a expansão da modalidade.( Introdução à entrevista realizada em Maio de 1989,para o Jornal de Almada)

- Quando é que se iniciou na prática do judo?

“Comecei a minha carreira em 1972 no Núcleo da Escola Emídio Navarro, onde tive como mestre o professor Silva Marques, o qual era responsável e bastante me motivou para o judo. No ano de 1978  passei a ficar ligado ao Núcleo do Liceu de Almada. Os núcleos eram apoiados pela Direcção Geral de Desportos  e funcionavam na Emídio e no Liceu de Almada.
Nesse mesmo ano o mestre André Ferreira, saiu do Ginásio do Sul e como eu era seu aluno e reconhecendo-me algum valor, convidou-me para ser seu sucessor no clube. Só que  nessa altura os responsáveis pelo Ginásio acharam que eu era muito novo e por isso não teria condições para ocupar o lugar deixado vago pelo grande Mestre, acabando por convidarem o “Jones” e o João Guilherme que eram judocas “cinto negro”, mas que não foram felizes ao serviço do clube e acabaram por sair.

- Cremos que nessa altura o seu amor pela carreira de treinador começava a ganhar vulto?

“Sim. E foi com bastante satisfação que no ano seguinte e apesar da  minha juventude a Academia Almadense me convidou para ser treinador das suas escolas. Convite que aceitei e em 1980 os responsáveis pelo Ginásio Clube do Sul acreditaram na minha juventude e convidaram-me para ser treinador, acumulando desde então o cargo na Academia e no Ginásio”.

- Abandonou assim a carreira de atleta bastante novo. Porquê?

“Como atleta fui razoável, participei em vários Torneios e Campeonatos, mas a carreira de treinador já me fascinava, por isso a minha opção”.

- O que o levou a fascinar-se tanto pela carreira de treinador?

“O que me levou a abraçar a carreira de treinador foi o insucesso que o judo estava a adquirir no nosso concelho. Aqui deixo alguns exemplos; o fim do Judo Clube de Almada e na altura também da “S.F.U.A.P.”.Fiz a minha análise aos insucessos desses clubes e reparei que o que faltava era o trabalho de base e daí a minha grande aposta, foi nesse trabalho de base e eu por ser muito jovem não tinha nada a perder. Apostei nas camadas jovens e nessa altura a Academia chegou a ter 200 judocas e foi por muito tempo o clube com mais praticantes ao sul do Tejo”.

- Gostaríamos que nos descrevesse os seus primeiros anos como treinador?

“Para mim foi na Academia Almadense que eu ganhei a maior matéria humana para trabalhar, foi  lá que eu encontrei os grandes valores, comecei a ter classes a partir dos quatro anos e foi sempre o meu lema, aprofundar o trabalho de base, talvez até inglório, porque de inicio os resultados não aparecem o que leva muitas vezes à saturação e frustração.
Mas vejo que valeu esse sacrifício, porque hoje sinto alguma recompensa ao verificar os valores que ajudei a formar”.

- Gostaríamos que nos desse a sua opinião sobre alguns valores que ajudou a formar?

“É muito agradável chegar ao ano de 1989 e verificar que todo esse trabalho não foi em vão, os novos valores que agora despontam, não aparecem por acaso, pois alguns já têm 8 ou 9anos de trabalho comigo, como seja os casos do Pedro Fernandes que começou na Academia com9 anos e presentemente têm17 anos e que tem feito grandes brilharetes, tendo inclusive, vencido o último Torneio do Ginásio.
Quero destacar também a minha irmã, Maria Manuela Trindade, “cinto negro”, que actualmente ´treinadora na Academia, outro caso muito particular é o do Ricardo Raimuno”cinturão negro”, que reside em Sesimbra e que vem todos os dias para o Ginásio. Há ainda o Pedro Lopes, vice-campeão nacional e que este ano ocupar o 3º lugar.
A nível distrital as minhas classes são aquelas que melhores classificações têm alcançado e como curiosidade bem significativa é que no Ginásio e na Academia tenho um terço dos atletas inscritos na Associação Distrital de Setúbal, no qual estão filiados 20 clubes”

- Qual o segredo do Mestre para estes resultados bastantes positivos dos seus judocas?

“ Todas estas situações não são fruto do acaso, elas são, sim fruto de um trabalho sério, cuidadoso onde a planificação é rigorosamente estudada. Um exemplo do que lhe acabo de afirmar é oque se passou na época passada, consegui levar 20atletas a França onde participaram num importante estágio, o qual foi bastante proveitoso pois os resultados alcançados a nível nacional são fruto desse estágio”.

- Fale-nos no futuro ?

“ Como sou uma pessoa que gosto de fazer uma programação de trabalho atempadamente, direi que irei organizar um estágio internacional, o qual se vai efectuar este verão na Costa de Caparica e em que o orientador desse estágio é o antigo Campeão do Mundo, o francês Bernard Tchoulouxan e que nesse estágio espero contar coma presença de 100 judocas estrangeiros, oriundos da (Alemanha,Espanha,França e Itália).
Esta é uma particularidade que o judo tem de gratificante, é o intercâmbio entre as pessoas, o que é salutar. Em Setembro irei a Paris com o Pedro Fernandes e o Jorge Martins, dois juniores para realizar um estágio e em Novembro vem a Portugal a meu convite o treinador da equipa olímpica da Checoslováquia, Roldof Ludivic,o qual estará no nosso país duas semanas”.

 - Temos conhecimento de que o Pedro e o Jorge são duas promessas do judo nacional, com fortes possibilidades de irem representar o País nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 92.Queria acrescentar algo a esta nossa afirmação?

“Sim, espero fazer um estágio no estrangeiro com o Pedro e o Jorge com vista às Olimpíadas de Barcelona, pois os clubes não estão preparados para criarem condições que possibilitem aos atletas um treino adequado a esses objectivos. Portanto compete-me a mim, como responsável e ligado ao fenómeno desportivo dar esse apoio na esperança de que, num futuro próximo , a minha dedicação ao judo tenha contribuído para algumas mudanças a nível de estruturas para a prática da modalidade”.

- Acha que o judo tem tido a devida divulgação?

“Lamento profundamente a falta de divulgação do judo, a qual é bastante negativa, pois a maior parte dos jovens que agora estão no judo aparecem cá porque um amigo lhe transmitiu que o praticava. Ora isso não é o suficiente. Há que promover a divulgação da modalidade, pois o nosso concelho já tem um aceitável nível de praticantes.
Aqui já ao serviço do CCD Pragal
-Haverá no nosso concelho estruturas para o incremento do Judo?

“ Em Almada os espaços são poucos e dou-lhe um exemplo, aqui no Ginásio do Sul, temos uma sala de 70m2.Qualquer pessoa entendida na matéria sabe perfeitamente que se não fosse a nossa carolice, o nosso querer, era impossível realizar um trabalho aceitável,
Gostaria de fazer um apelo à nossa autarquia, já é tempo de os seus responsáveis se debruçarem-se sobre o fenómeno desportivo e neste caso particular o judo”.

- Para quando em Almada um clube só de judo?

“ Esse é um dos pontos que eu queria focar. Ou o Ginásio do Sul e a Academia Almadense se interessam mesmo pelo judo, ou então os judocas almadenses terão que despertar para a criação de um novo clube. Caso contrário todo este trabalho que se vem desenvolvendo está condenado ao insucesso”.


Aqui deixamos o testemunho de  Nelson Trindade, que aos 28 anos é já um mestre de elevada craveira e que lançou um alerta:-“ou as pessoas se interessam pelo judo no nosso concelho ou ele está condenado ao insucesso ”-,pois lutadores com a estirpe de Nelson Trindade existem poucos e basta reparar no seu passado desportivo para verificarmos  que estivemos na presença de um mestre que não pede nada para si, mas sim para os seus judocas e para o judo almadense.

A entrevista que realizei a Nelson Trindade e já lá vão 25 anos,

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