A Associação
de Futebol de Setúbal, comemora hoje dia 5 de maio de 2017, a passagem do nonagésimo
aniversário de uma História Desportiva que muito enriquece o Distrito de Setúbal
e o Futebol Nacional.
A Associação
de Futebol de Setúbal, nasceu do grupo dos “13 clubes” que a 5 de maio de 1927,
fundaram Associação de Futebol de Setúbal e que saiu da vontade dos dirigentes
que lideravam os seguintes clubes: Luso Futebol Clube, Palmelense Futebol
Clube, Futebol Comércio e Indústria, Vitória Futebol Clube, Bonfim Futebol
Clube, Estrela Sporting Clube, Grupo Desportivo dos Empregados do Comércio, Grupo
Desportivo Setubalense “Os Treze”,Racing Clube Setubalense, Clube de Setúbal
“Os Miúdos”, Sporting Clube Setubalense “Os Frades”, São Domingos Futebol
Clube, União Futebol Avenida.
“Desporto
Almada”, saúda a Associação de Futebol de Setúbal, os seus dirigentes e os
clubes que a suportam, pela passagem de mais um aniversário de uma longa vida
desportiva"
" Desporto Almada" partilha aqui a intervenção de João Reis Ribeiro, aquando da apresentação do livro - Um Distrito Sob o Signo do Futebol - aquando da Sessão de Encerramento da Época Desportiva 2002 / 2003 da A. F. S. realizada no dia 5 de julho, em Sesimbra e onde foi lançado o livro, Um Distrito Sob o Signo do Futebol, da autoria de António Matos Fortuna. Um livro a consultar.
UM DISTRITO
SOB O SIGNO DO FUTEBOL de António Matos Fortuna
No tempo de
duas décadas, António Matos Fortuna publicou vinte livros sobre a história e as
estórias relacionadas com factos destas terras que constituem a península de
Setúbal. Repito: no espaço de 20 anos foram 20 livros, isto é, contas feitas,
uma média de um livro por ano, revelando memórias, esgaravatando vidas, abrindo
arcas... ensinando marcas da identidade destas terras.
Este livro
que aqui nos traz é então o vigésimo, fração de sorte que ao jogo se dedica,
que o futebol regional historia, em tempo mesmo a calhar, porque este trabalho
pretende assinalar os 75 anos da Associação de Futebol de Setúbal, uma
instituição que tem tanto tempo de vigência como o distrito que ela abarca e
que, por isso mesmo, tem uma história que se lhe cola, nesta relação das
instituições com as divisões político-administrativas.
É um livro
de aniversário, note-se. O próprio autor o refere, já bem a meio da obra,
lembrando: "estas páginas de maneira nenhuma se identificam com as de um
relatório; aqui temos um livro comemorativo, cuja função, mesmo que não
atingida, é diferente; por isso, as informações que expande se assemelham às
notas soltas de um memorandum de apontamentos avulsos, e não a uma relação de
factos ou acontecimentos atentamente ordenados". Isto é: contar a história
da Associação de Futebol de Setúbal e dos seus 75 anos implicaria também seguir
os meandros de todas as coletividades que fizeram com que a Associação fosse o
que foi e o que é, além de obrigar às histórias pessoais dos intervenientes que
constituíram ao longo do tempo a sua alma. Quero com isto dizer que a história
da Associação de Futebol de Setúbal é obra para ir sendo feita, para ir sendo
evocada, em momentos de exaltação da instituição e dos clubes que a compõem, em
situações de aniversário. Este livro de Matos Fortuna é um contributo, um muito
bom contributo, para esse percurso de descoberta da origem e da atualidade da
Associação, obra a não parar, de forma a que todos os participantes, coletiva
ou individualmente, revejam os contributos dos seus pares, sejam eles
contemporâneos ou antepassados. É que a história de uma Associação de Futebol
não se pode medir apenas pelo desempenho demonstrado pelos golos, pelas
arbitragens, pelos dirigentes ou pelos públicos; terá de passar também pelo contributo
que uma modalidade como o futebol pode trazer para a identidade de uma região e
de um povo. E, neste plano, convivendo com os seus heróis e com os seus tempos,
creio que este livro de Matos Fortuna faz justiça a estes considerandos.
Distrito sob
o Signo do Futebol", sendo o tal "memorandum de apontamentos
avulsos", é também, sobretudo na sua primeira parte, o reviver das emoções
de escrita do seu autor. Com efeito, coligir apontamentos implica gostos
pessoais, que o mesmo é dizer: envolve paixões e devoções, seja por tempos,
seja por ídolos (e, como sabemos, o futebol é arte e é jogo que se presta à
conjugação destes vetores). O discurso de Matos Fortuna é pessoal e, ao longo
do livro, não se escondem as razões das opções, da mesma maneira que a utilização
da memória (ou das memórias) é associada ao recurso às fontes, sejam elas
constituídas pelos jornais desportivos, sejam elas as vozes dos entendidos ou
dos admiradores da modalidade.
A experiência pessoal do autor vai ainda mais longe, nada escondendo ao leitor, quando na escrita revela que está a aprender porque está a escrever este livro – exemplo inequívoco transparece quando aborda a modalidade de "futsal", confessando estar a lidar com palavra "que, ainda há pouco, desconhecia por completo e relativamente à qual não encontrei explicação, nem sequer a mínima referência na meia dúzia de dicionários corrigidos e atualizados que, à pressa, mas com suficiente atenção, de propósito e a propósito, consultei". É assim a escrita de Matos Fortuna: da mesma forma que evoca com prazer a linguagem do futebol que se praticava há mais de cinquenta anos, eivada de estrangeirismos (sobretudo anglicismos, dessa Inglaterra que foi a mãe da modalidade), muitos já em desuso e outros aportuguesados, da mesma forma que isso acontece, manifesta o seu espanto por se confrontar com esta plasticidade e, ao mesmo tempo, insuficiência linguística que continua a criar palavras, mesmo num reino como o do futebol...
A experiência pessoal do autor vai ainda mais longe, nada escondendo ao leitor, quando na escrita revela que está a aprender porque está a escrever este livro – exemplo inequívoco transparece quando aborda a modalidade de "futsal", confessando estar a lidar com palavra "que, ainda há pouco, desconhecia por completo e relativamente à qual não encontrei explicação, nem sequer a mínima referência na meia dúzia de dicionários corrigidos e atualizados que, à pressa, mas com suficiente atenção, de propósito e a propósito, consultei". É assim a escrita de Matos Fortuna: da mesma forma que evoca com prazer a linguagem do futebol que se praticava há mais de cinquenta anos, eivada de estrangeirismos (sobretudo anglicismos, dessa Inglaterra que foi a mãe da modalidade), muitos já em desuso e outros aportuguesados, da mesma forma que isso acontece, manifesta o seu espanto por se confrontar com esta plasticidade e, ao mesmo tempo, insuficiência linguística que continua a criar palavras, mesmo num reino como o do futebol...
Leia o
leitor este livro, não como um documento oficial que faça o ponto da situação
sem reservas e com certezas, mas como uma "conversa escrita" que vai
brotando à medida que as lembranças vão surgindo, deixando espaços em branco,
preenchendo outros quase milimetricamente, assim como quem conta histórias e se
deixa enlevar por momentos, por acções, por paisagens, por tempos, por jogos.
Contar a
história da Associação de Futebol de Setúbal é também contar a história do
distrito de Setúbal, pormenor determinante, de resto. O casamento que Matos
Fortuna faz destas duas histórias é comedido, não levando o leitor a perder-se
nas poeiras das estantes, mas conduzindo-o cautelosamente, com dose de
informação quanto baste, num itinerário de construção das duas figuras – a do
distrito e a da Associação. De resto, tão inseparáveis são as duas criações
que, tendo o distrito nascido em 22 de dezembro de 1926, logo a Associação foi
fundada em 5 de maio de 1927, isto é, cerca de cinco meses depois. Assim, como
refere Matos Fortuna, "antes de todas as outras entidades, no âmbito sociocomunitário
do distrito de Setúbal acabado de instituir, o futebol marcou lugar primeiro
nas estruturas oficiais ou oficiosas que timbravam sua atividade a nível
distrital publicamente definido". Se este é um ponto absolutamente a
enaltecer na construção da Associação, também neste livro não é esquecido que
as construções sofrem por vezes as suas contrariedades, como foi, por exemplo,
a separação operada por dois clubes do Barreiro, no início da década de trinta,
que renunciaram ao seu desempenho na área distrital a que pertenciam para se
deixarem seduzir pela Associação de Futebol de Lisboa... tendo mesmo o Futebol
Clube Barreirense chegado a ter a sua sede nos arredores do Terreiro do Paço...
Contar a
história da Associação de Futebol de Setúbal é também contar a história dos que
a fizeram, independentemente da posição em que tenham jogado – desportistas,
dirigentes, árbitros, clubes, etc. Também esses perpassam por este livro,
alguns em jeito de evocação, mas todos com ficha curricular desportiva adequada.
E é belo ver as cartas que têm sido jogadas no âmbito da Associação, em termos
de qualidade, desde que Adriano Gonçalves de Morais, em 1927, teve a
presidência inaugural desta instituição! Aliás, Matos Fortuna deixa-se enlevar
por este trajeto de glórias, chegando a contar vinte futebolistas do distrito
entre os cem melhores do país que, em 2002, o "Record" elegeu, isto
é, vinte por cento desses melhores atletas são originários da área cometida à
Associação de Futebol de Setúbal, uma responsabilidade de peso pelo menos a
nível de identidade!
Interessantes
também são algumas curiosidades reveladas neste livro, como aquelas que dizem
respeito à caracterização do distrito em termos geográficos, históricos,
demográficos, provinciais; como aquelas que saltam do arquivo da Associação
(consultável no Arquivo Distrital de Setúbal), reveladas por três cartas bem
espaçadas no tempo – de 1925, de 1937 e de 1979 – a contarem histórias de
disputas entre clubes e do relacionamento entre os clubes e as finanças, ambas
com as marcas do seu tempo, mas bem cheias de atualidade, talvez porque sejam
uma constante neste mundo do desporto(!!!); como aquelas de justificar a terra
do Barreiro como a melhor "fábrica de jogadores" ou a terra de Pinhal
Novo como a "capital da arbitragem futebolística do distrito"; como
aquelas do jogador que expulsou o árbitro do jogo ou dos regedores que
intervieram na continuação dos jogos... enfim, há histórias para todos os
gostos, desde o sério ao irónico, desde o deslumbrante ao patusco, desde o
interessante percurso de vida até à informação elementar.
Na segunda
parte do livro, significativamente intitulada "Elementos Estatísticos e
Equiparados", é permitida uma vista rápida sobre as internacionalizações
de jogadores e de árbitros, assim como sobre os documentos que constituem o
acervo da Associação de Futebol de Setúbal presentes no Arquivo Distrital. Não
sendo extensa, favorecendo a leitura rápida, esta parte dá bem uma imagem da
força do futebol a nível do distrito de Setúbal.
Finalmente,
a terceira parte, intitulada "Principais Componentes da Associação de
Futebol de Setúbal", onde surgem registados, na maioria com os respetivos
logótipos, dados historiais sobre os 110 clubes que, no ano das bodas de
diamante da Associação, a integravam. Eventualmente, muitos destes dados
passarão a constituir os únicos elementos históricos que alguns clubes têm
sobre si próprios. Gabe-se o esforço de saber contactos, ano de fundação,
quantidade de associados, indicações sobre os respetivos campos de jogos, ainda
acrescidas de curto historial ligado à origem do nome do campo... Mesmo nestas
notas rápidas sobre esta mais de centena de agremiações, há lugar para pequenas
histórias de cunho local, algumas bem curiosas – a data da criação da União Piedade
Futebol Club ocorreu em 9 de Abril de 1914, data bem singular, porquanto se
formou no ano em que teve início a Primeira Grande Guerra (1914) e no dia e mês
(9 de Abril) em que, quatro anos depois, os portugueses foram fustigados na
batalha de La Lys, quase no final da mesma Guerra; outra refere o facto de,
habitualmente, os habitantes de Palmela serem conhecidos por
"palmelões", tendo sido o clube da terra, criado em 1924, que trouxe
para uso o termo "palmelense"...
Uma
referência ainda para os desenhos de Duarte Fortuna, de cunho absolutamente
regionalista, retratos autênticos que justificam o título do livro, dominados
pela imagem que se torna símbolo da bola, objeto a que Matos Fortuna não foi
insensível, comparando-a ao mundo e traçando o seu roteiro poético: "as
voltas e reviravoltas do mundo em pouco tempo" são semelhantes às da bola
"que anda e desanda, salta e voa, leva pontapés e cabeçadas e, em cada
jogo, é mil vezes bendita e amaldiçoada".
A concluir,
permitam-me que lhes traga à lembrança Romeu Correia, escritor destas bandas
quase só lembrado na sua Almada natal. É que, em 1954, escreveu o romance
"Desporto Rei", publicado no ano seguinte, obra que continua hoje a
ser quase única no panorama literário ficcional português com o mundo do futebol
por contexto, contando uma história de disputa local em torno de um clube que
queria ascender de divisão. Mais uma característica única do mundo do desporto
no distrito de Setúbal, afinal! Para lá da história, gostaria de lhes lembrar a
abertura deste livro, que diz assim: "Em desporto, o desenvolvimento
físico dos indivíduos importa acima de tudo. Mas, se ao aperfeiçoamento do
corpo se alia o domínio dos nervos, a decisão e o espírito de equipa, que se
forjam na harmonia e no ritmo dos jogos, o Homem atinge o seu apogeu físico e
espiritual. O desporto só é escola de perene juventude e felicidade quando,
através dele, se atinge o perfeito equilíbrio entre o músculo e o pensamento –
síntese ideal que a velha Grécia nos legou no imorredoiro Discóbolo."
E é assim!
Vale a pena continuar a perseguir essa imagem do Discóbolo para que a
Associação de Futebol de Setúbal continue a contribuir para a identidade que
Matos Fortuna tão bem se encarregou de nos contar e que cada um dos
participantes neste mundo do futebol vai construindo ano a ano.
Muito
obrigado. João Reis Ribeiro 05. Julho.2003 (no Hotel do Mar, em Sesimbra)
Saudações
desportivas
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