- NELSON TRINDADE --- O MESTRE QUE MAIS TEM LUTADO PELA SOBREVIVÊNCIA DO JUDO NO NOSSO CONCELHO
O CCD Pragal
Judo Clube está a comemorar as suas bodas de prata .Hoje recupero aqui uma entrevista que realizei em1989 ao Mestre Nelson Trindade,para o Jornal de Almada,seis meses antes do aparecimento do CCD Pragal
O judo em Almada
está a passar por uma fase de franco progresso, apesar das várias carências a
nível de infra-estruturas desportivas e a falta de apoios a que a modalidade é votada,
ela está presentemente num plano de grande evidência face aos resultados de
alguns judocas nas provas nacionais, por
isso impunha-se ouvir o Mestre Nelson
Trindade, o qual têm vindo a desempenhar um papel relevante para a expansão da
modalidade.( Introdução à entrevista realizada em Maio de 1989,para o Jornal de Almada)
- Quando é
que se iniciou na prática do judo?
“Comecei a
minha carreira em 1972 no Núcleo da Escola Emídio Navarro, onde tive como mestre
o professor Silva Marques, o qual era responsável e bastante me motivou para o judo.
No ano de 1978 passei a ficar ligado ao Núcleo
do Liceu de Almada. Os núcleos eram apoiados pela Direcção Geral de
Desportos e funcionavam na Emídio e no Liceu
de Almada.
Nesse mesmo
ano o mestre André Ferreira, saiu do Ginásio do Sul e como eu era seu aluno e reconhecendo-me
algum valor, convidou-me para ser seu sucessor no clube. Só que nessa altura os responsáveis pelo Ginásio
acharam que eu era muito novo e por isso não teria condições para ocupar o
lugar deixado vago pelo grande Mestre, acabando por convidarem o “Jones” e o
João Guilherme que eram judocas “cinto negro”, mas que não foram felizes ao
serviço do clube e acabaram por sair.
- Cremos que
nessa altura o seu amor pela carreira de treinador começava a ganhar vulto?
“Sim. E foi
com bastante satisfação que no ano seguinte e apesar da minha juventude a Academia Almadense me
convidou para ser treinador das suas escolas. Convite que aceitei e em 1980 os
responsáveis pelo Ginásio Clube do Sul acreditaram na minha juventude e
convidaram-me para ser treinador, acumulando desde então o cargo na Academia e
no Ginásio”.
- Abandonou
assim a carreira de atleta bastante novo. Porquê?
“Como atleta
fui razoável, participei em vários Torneios e Campeonatos, mas a carreira de
treinador já me fascinava, por isso a minha opção”.
- O que o
levou a fascinar-se tanto pela carreira de treinador?
“O que me levou
a abraçar a carreira de treinador foi o insucesso que o judo estava a adquirir
no nosso concelho. Aqui deixo alguns exemplos; o fim do Judo Clube de Almada e
na altura também da “S.F.U.A.P.”.Fiz a minha análise aos insucessos desses
clubes e reparei que o que faltava era o trabalho de base e daí a minha grande aposta,
foi nesse trabalho de base e eu por ser muito jovem não tinha nada a perder.
Apostei nas camadas jovens e nessa altura a Academia chegou a ter 200 judocas e
foi por muito tempo o clube com mais praticantes ao sul do Tejo”.
- Gostaríamos
que nos descrevesse os seus primeiros anos como treinador?
“Para mim
foi na Academia Almadense que eu ganhei a maior matéria humana para trabalhar,
foi lá que eu encontrei os grandes
valores, comecei a ter classes a partir dos quatro anos e foi sempre o meu
lema, aprofundar o trabalho de base, talvez até inglório, porque de inicio os
resultados não aparecem o que leva muitas vezes à saturação e frustração.
Mas vejo que
valeu esse sacrifício, porque hoje sinto alguma recompensa ao verificar os
valores que ajudei a formar”.
-
Gostaríamos que nos desse a sua opinião sobre alguns valores que ajudou a
formar?
“É muito
agradável chegar ao ano de 1989 e verificar que todo esse trabalho não foi em vão,
os novos valores que agora despontam, não aparecem por acaso, pois alguns já
têm 8 ou 9anos de trabalho comigo, como seja os casos do Pedro Fernandes que
começou na Academia com9 anos e presentemente têm17 anos e que tem feito
grandes brilharetes, tendo inclusive, vencido o último Torneio do Ginásio.
Quero destacar
também a minha irmã, Maria Manuela Trindade, “cinto negro”, que actualmente
´treinadora na Academia, outro caso muito particular é o do Ricardo Raimuno”cinturão
negro”, que reside em Sesimbra e que vem todos os dias para o Ginásio. Há ainda
o Pedro Lopes, vice-campeão nacional e que este ano ocupar o 3º lugar.
A nível distrital
as minhas classes são aquelas que melhores classificações têm alcançado e como
curiosidade bem significativa é que no Ginásio e na Academia tenho um terço dos
atletas inscritos na Associação Distrital de Setúbal, no qual estão filiados 20
clubes”
- Qual o
segredo do Mestre para estes resultados bastantes positivos dos seus judocas?
“ Todas
estas situações não são fruto do acaso, elas são, sim fruto de um trabalho sério,
cuidadoso onde a planificação é rigorosamente estudada. Um exemplo do que lhe
acabo de afirmar é oque se passou na época passada, consegui levar 20atletas a
França onde participaram num importante estágio, o qual foi bastante proveitoso
pois os resultados alcançados a nível nacional são fruto desse estágio”.
- Fale-nos no futuro ?
“ Como sou
uma pessoa que gosto de fazer uma programação de trabalho atempadamente, direi
que irei organizar um estágio internacional, o qual se vai efectuar este verão na
Costa de Caparica e em que o orientador desse estágio é o antigo Campeão do Mundo,
o francês Bernard Tchoulouxan e que nesse estágio espero contar coma presença
de 100 judocas estrangeiros, oriundos da (Alemanha,Espanha,França e Itália).
Esta é uma
particularidade que o judo tem de gratificante, é o intercâmbio entre as pessoas,
o que é salutar. Em Setembro irei a Paris com o Pedro Fernandes e o Jorge Martins,
dois juniores para realizar um estágio e em Novembro vem a Portugal a meu
convite o treinador da equipa olímpica da Checoslováquia, Roldof Ludivic,o qual
estará no nosso país duas semanas”.
- Temos conhecimento de que o Pedro e o Jorge
são duas promessas do judo nacional, com fortes possibilidades de irem
representar o País nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 92.Queria acrescentar
algo a esta nossa afirmação?
“Sim, espero
fazer um estágio no estrangeiro com o Pedro e o Jorge com vista às Olimpíadas
de Barcelona, pois os clubes não estão preparados para criarem condições que
possibilitem aos atletas um treino adequado a esses objectivos. Portanto
compete-me a mim, como responsável e ligado ao fenómeno desportivo dar esse
apoio na esperança de que, num futuro próximo , a minha dedicação ao judo tenha
contribuído para algumas mudanças a nível de estruturas para a prática da
modalidade”.
- Acha que o
judo tem tido a devida divulgação?
“Lamento
profundamente a falta de divulgação do judo, a qual é bastante negativa, pois a
maior parte dos jovens que agora estão no judo aparecem cá porque um amigo lhe
transmitiu que o praticava. Ora isso não é o suficiente. Há que promover a
divulgação da modalidade, pois o nosso concelho já tem um aceitável nível de
praticantes.
Aqui já ao serviço do CCD Pragal |
-Haverá no nosso
concelho estruturas para o incremento do Judo?
“ Em Almada
os espaços são poucos e dou-lhe um exemplo, aqui no Ginásio do Sul, temos uma
sala de 70m2.Qualquer pessoa entendida na matéria sabe perfeitamente que se não
fosse a nossa carolice, o nosso querer, era impossível realizar um trabalho
aceitável,
Gostaria de
fazer um apelo à nossa autarquia, já é tempo de os seus responsáveis se
debruçarem-se sobre o fenómeno desportivo e neste caso particular o judo”.
- Para quando em Almada um clube só de judo?
“ Esse é um
dos pontos que eu queria focar. Ou o Ginásio do Sul e a Academia Almadense se
interessam mesmo pelo judo, ou então os judocas almadenses terão que despertar
para a criação de um novo clube. Caso contrário todo este trabalho que se vem
desenvolvendo está condenado ao insucesso”.
Aqui
deixamos o testemunho de Nelson
Trindade, que aos 28 anos é já um mestre de elevada craveira e que lançou um
alerta:-“ou as pessoas se interessam pelo judo no nosso concelho ou ele está
condenado ao insucesso ”-,pois lutadores com a estirpe de Nelson Trindade
existem poucos e basta reparar no seu passado desportivo para verificarmos que estivemos na presença de um mestre que
não pede nada para si, mas sim para os seus judocas e para o judo almadense.
A entrevista que realizei a Nelson Trindade e já lá vão 25 anos,
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